§ 31. O ser-“aí” como entender


O encontrar-se é uma das estruturas existenciárias em que o ser do “aí” se mantém. Este ser é constituído com igual originariedade pelo entender. O encontrar-se tem cada vez o seu entendimento ainda quando o reprime. [143] O entender é sempre um entender em um estado-de-ânimo. Ao interpretá-lo como existenciário fundamentala, mostra-se que esse fenômeno é assim concebido como modus fundamental do ser do Dasein. Ao oposto, “entender” no sentido de um possível modo-de-conhecimento entre outros, algo distinto de “explicar”, deve com este ser interpretado como um derivado existenciário do entender primário que é coconstitutivo do ser do “aí” em geral.

A investigação levada a efeito até agora já tropeçou nesse entender originário, mas não o inseriu expressamente no tema. Existindo, o Dasein é o seu “aí”, o que significa, assim: o mundo é “aí”; o seu ser-“aí” [Da-sein] é o ser-em. E este é igualmente “aí”, isto é, como aquilo em-vista-de-que o Dasein é. No em-vista-de-quê, o existente ser-no-mundo abre-se como tal, abertura essa que foi denominada entender1. No entender do em-vista-de-quê é coaberta a significatividade que nele se funda. A abertura do entender, como abertura do em-vista-de-quê e da significatividade, é cooriginariamente abertura do completo ser-no-mundo. A significatividade é aquilo-em-relação-a que o mundo, como tal, é aberto. Que o em-vista-de-quê e a significatividade são abertos no Dasein significa: o Dasein é o ente para o qual, como ser-no-mundo, está em jogo o seu próprio ser.

No discurso ôntico, empregamos às vezes a expressão “entender disso” no sentido de “poder enfrentar uma dificuldade”, “estar à sua altura”, “poder algo”. Aquilo que se pode no entender como existenciário não é um quê, mas


1 Cf. § 18, pp. 111 ss.


a ontologicamente fundamental, isto é, a partir da relação da verdade do ser.


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Martin Heidegger (GA 2) Ser e Tempo (Castilho)