SER E TEMPO

Entretanto a “substância” do homem não é o espírito como a síntese de alma e corpo, mas a existência.



§ 26. O Dasein-com dos outros e o cotidiano ser-com


A resposta à pergunta pelo quem do Dasein cotidiano deve ser obtida na análise do modo-de-ser em que o Dasein se mantém de pronto e no mais das vezes. A investigação orienta-se pelo ser-no-mundo, por cuja constituição-fundamental do Dasein todo modus do seu ser é codeterminado. Se dizíamos com razão que mediante a precedente explicação do mundo já ficavam também visíveis os restantes momentos estruturais do ser-no-mundo, então a resposta à pergunta pelo quem deve ter sido de certo modo preparada também por ela.

A “descrição” do imediato mundo-ambiente, por exemplo, do mundo de trabalho do artesão resultou em que com o instrumento que se encontra no trabalho “vêm-de-encontro ao mesmo tempo” os outros aos quais a “obra” se destina. No modo-de-ser desse utilizável, isto é, em sua conjuntação, reside uma remissão essencial a possíveis usuários para cujos corpos o utilizável deve ser “feito sob medida”. De igual maneira, no material empregado vem-de- encontro seu produtor ou “fornecedor” como alguém que “atende” bem ou atende mal. Por exemplo, o campo, “ao longo do qual” caminhamos, se mostra como pertencente a este ou àquele, [118] como mantido ordinariamente por ele, o livro que se usa foi comprado em... presenteado por... etc. O barco ancorado junto à praia remete, em seu ser-em-si, a um conhecido, que nele faz suas excursões, mas que, como “barco alheio”, aponta para outros. Outros que assim “vêm-de-encontro” na conexão-instrumental utilizável do-mundo-ambiente, os quais não são como que acrescentados pelo pensamento a algo que de pronto só subsistisse, mas essas “coisas” vêm-de-encontro a partir do mundo em que são utilizáveis para os outros, mundo que


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Martin Heidegger (GA 2) Ser e Tempo (Castilho)