SER E TEMPO

na total ausência de tal objetivação. Isso não significa, porém, que o sinal não é em geral descoberto como instrumento e que, afinal, o “utilizável” do interior-do-mundo não tem em geral o modo-de-ser do instrumento. Talvez esse fio-condutor ontológico (utilizabilidade e instrumento) em nada contribua para uma interpretação do mundo primitivo, e menos ainda o faria por certo a ontologia da coisidade. Mas se um entendimento-do-ser é constitutivo do Dasein primitivo e do mundo primitivo em geral, torna-se então tanto mais urgente a elaboração da ideia “formal” de mundidade, a saber, de um fenômeno que possa se modificar de tal modo que todos os enunciados ontológicos, segundo os quais algo que tal ainda não é ou que já não é, recebam em um contexto fenomênico já-dado um sentido fenomênico positivo do que esse algo não é.

A precedente interpretação do sinal devia oferecer apoio fenomênico unicamente à caracterização da remissão. A relação entre sinal e remissão é tríplice: 1. O mostrar, como possível concretização do para-quê de uma serventia, funda-se na estrutura instrumental cm geral, no para-algo (remissão). 2. O mostrar do sinal como caráter-de-instrumento de um utilizável pertence a uma totalidade instrumental, a uma conexão-de-remissão. 3. O sinal não é somente utilizável com um outro instrumento, mas o mundo-ambiente em sua utilizabilidade se torna cada vez expressamente acessível ao ver-ao-redor. O sinal é algo onticamente utilizável, o qual, como este instrumento determinado, tem ao mesmo tempo a função de algo que indica a estrutura ontológica da utilizabilidade, da totalidade-de-remissão e da mundidade. Aí tem raiz a precedência desse [83] utilizável no interior-do-mundo-ambiente da ocupação que vê-ao-redor. Sc a remissão ela mesma deve ser, por conseguinte, o fundamento ontológico do sinal, ela não pode por sua vez ser concebida como sinal. A remissão não é a determinidade ôntica de um utilizável, onde ela mesma constitui no entanto a utilizabilidade. Em que sentido a remissão é a “pressuposição” do utilizável e em que medida ela, como


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Martin Heidegger (GA 2) Ser e Tempo (Castilho)